Investir em Saúde (por Tiago Freitas)

Hoje de manhã, a caminho do trabalho, questionava-me sobre o momento económico em que vivemos e se deverei poupar para me precaver para os próximos tempos ou investir no sentido da diferenciação? Mais importante, investindo, em que áreas, valências ou serviços clínicos?

Por outras palavras, como irá evoluir o mercado, nas suas necessidades e na valorização da Saúde? Iremos assistir a uma aposta no Sistema Nacional de Saúde, Sub-sistemas de Saúde e Convenções ou continuará a existir margem para um serviço privado com alguns pontos de diferenciação?

Se por um lado, será inevitável a uma crescente melhoria da qualidade dos serviços de saúde convencionados, muito por responsabilidade do aumento de literacia e níveis de educação da população, que acaba por “exigir” melhor relação expectativa/ eficiência nos resultados, mas também pela pressão exercida por novos players no mercado, por outro a Saúde privada poderá reunir condições custo-efectividade capazes de criar um posicionamento diferenciado, que continue a fazer sentido.

Acredito que iremos assistir, nos próximos dois anos, ao desafio da poupança versus investimento e talvez a resposta resida no meio, como manda a tradição. Se a pandemia nos ensinou alguma coisa, foi a melhor gerir capitais, com redução criteriosa de gastos (despesas) e análise mais do que estudada de investimentos, o que no fundo podemos englobar nas competências de Gestão. Com uma inflação a atingir valores elevados, associado à especulação do mercado, particularmente, no que toca ao mercado imobiliário (o qual impacta valores de rendas, prestações bancárias ou aplicação de capital) e ainda juntando a progressiva escassez de matérias-primas, possivelmente iremos assistir a uma redefinição de prioridades das pessoas, influenciando a decisão de onde gastarão o seu dinheiro. É também visível o aumento de pequenos negócios, o que trará desafios marcantes ao nível do posicionamento e gestão da concorrência (nem sempre leal).

Antevendo um cenário, em que se poderá instalar uma “crise” económica, associada a uma crise de valores num cenário “salve-se quem puder,” com contornos muito próprios, mais do que nunca é importante reforçarmos ou construirmos alguns alicerces:

  • Estabelecer relações duradouras de confiança (manter a seriedade na Saúde)
  • Fortalecer o caminho custo-efectividade
  • Investir em instalações com conforto (eventualmente, melhorar o espaço actual e esperar por um contraciclo para investir na compra de um espaço)
  • Cultivar a mente empreendedora para o investimento (mesmo que pequenos investimentos – Activos, que gerem retorno financeiro)
  • Investir num algoritmo de avaliação por complexidade e risco, com métricas objectivas (recorrer a instrumentos e equipamentos)
  • Investir numa intervenção centrada no cliente, parametrizada
  • Promover modelos e estratégias de desenvolvimento de saúde ao longo da vida (importante na retenção de clientes)
  • Reestruturar o rácio margem bruta/ margem líquida
  • Reduzir gastos supérfluos ou desnecessários
  • Melhorar os processos internos de organização
  • Apostar (nesta fase) na cultura de poupança pelo “não gasto”, para que seja possível investir no momento ‘certo’

Se um elemento ganhou expressão e valor económico, como se de ouro se tratasse, foi o elemento Tempo. Entre vidas aceleradas, sem tempo; mentes que não descansam o devido tempo; e uma evolução estonteante do universo tecnológico, em que o tempo parece acelerar por portais sónicos, acredito que este seja o elemento-chave nos negócios de amanhã. Tempo que poupamos ao cliente (em procedimentos administrativos, avaliação, intervenção, resultados obtidos), que se traduz em tempo que oferecemos ao cliente. Tempo que fazemos parar, numa consulta ou sessão terapêutica, em que a mente constantemente activa, “para” por momentos. Tempo de vida funcional, prazerosa, sem dor. Tempo que tem de decorrer para que a poupança ocorra, mas também para o timing certo de investimento. Aplicado à Saúde, os serviços que melhor trabalhem o Tempo dos seus clientes, serão os serviços (de longe) mais valorizados, mais procurados e que melhor suportarão os anos vindouros, com um posicionamento de destaque, entre o Poupar e o Investir – no sentido do Tempo.

Autor: Tiago Freitas
Co-fundador Blue Physio Consultoria

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