O Fisioterapeuta enquanto Diretor Técnico

 

Nos últimos anos, a autonomia profissional do fisioterapeuta tem crescido, sendo que a Fisioterapia é hoje considerada uma profissão com um corpo de saberes próprio, com capacidade de avaliar, planear e intervir juntos dos seus utentes, sempre dentro do paradigma da multidisciplinaridade e atendendo aos referenciais normativos e regulatórios aplicáveis.

Esta autonomia decorre de uma formação uniformizada e de qualidade, assim como de uma adequada regulamentação da prática profissional, que teve o seu máximo expoente com a entrada em funções da Ordem dos Fisioterapeutas.

É alavancado nestes passos até agora dados, que existe o reconhecimento por parte da Entidade Reguladora da Saúde do direito ao registo de Unidades de Fisioterapia, sem que exista a necessidade de uma direção clínica (médica), desde que a atividade seja precedida de uma indicação médica (não uma prescrição).

Neste modelo, que exige a existência de um responsável técnico fisioterapeuta, têm surgido inúmeros negócios inovadores e diferenciados em Fisioterapia, sendo que são muitos os fisioterapeutas que juntam no seu negócio outras disciplinas da saúde, como é o caso da Nutrição ou da Terapia da Fala.

É bom para os utentes que proliferem unidades de cuidados de saúde diferenciadas e de qualidade. Contudo, este assumir da direção técnica por parte do fisioterapeuta ocorre muitas vezes sem o efetivo conhecimento da natureza da função, nem a ponderação exigida pelas reais implicações do seu exercício.

Importa por isso, enquanto fisioterapeutas, que contemplemos as diferentes dimensões e comportamentos que deveremos assumir nesta função, desde logo:

1. Necessidade de Reflexão

Não é apenas na componente técnica que precisamos de ter uma prática reflexiva, evidence-based e em linha com o que de melhor se faz a nível nacional e internacional. Desempenhar as funções de diretor técnico de uma unidade de saúde, faz com que o fisioterapeuta precise de refletir diariamente acerca da forma como são prestados os cuidados de saúde pelos quais este é o responsável último, estando atento ao próprio modelo e paradigma de atuação, a considerações éticas e deontológicas, bem como à “Jornada do Cliente” no seu espaço.

2. Competências Essenciais

Além de excelentes competências técnicas e de um conhecimento aprofundado e transversal das várias atividades que decorrem sob a sua responsabilidade, o fisioterapeuta que é diretor técnico deve, tal como descrito (e bem) pela Associação Portuguesa de Fisioterapeutas no Perfil de Competências do Fisioterapeuta, ser detentor de skills em campos tão diversos como a promoção do profissionalismo, a liderança, a comunicação ou a gestão.

3. Assunção da Responsabilidade

Esta não é apenas uma função no papel! O fisioterapeuta, como diretor técnico deve estar ciente e assumir responsabilidade sobre uma série de questões, como por exemplo a procura da melhoria contínua, a criação e uniformização de processos e procedimentos, a implementação de sistemas de qualidade e controlo de gestão, o cumprimento do RGPD, a criação e implementação de normas clínicas, de segurança e instruções de trabalho ou a gestão de possíveis reclamações ou litígios, entre outros.

Tens ou estás a pensar assumir estas funções? Já tinhas refletido desta forma sobre as mesmas?

Esperamos que este texto possa despoletar uma reflexão da tua parte sobre este tema e da importância de desenvolvermos competências para abraçarmos estas funções, com total segurança e confiança.

Autor: Emanuel Heleno
Mentor e Consultor na Blue Physio Consultoria