O paciente difícil na prática privada de Fisioterapia

O artigo “The difficult patient in private practice physiotherapy: A qualitative study” de Margaret Potter, Sandy Gordon e Peter Hamer explora como fisioterapeutas em prática privada, lidam com pacientes considerados difíceis. Este estudo qualitativo envolveu entrevistas com fisioterapeutas australianos abordando o tema da gestão de pacientes difíceis.

Os resultados demonstram diferentes tipos de perfis de pacientes e comportamentos que podem representar um desafio para o fisioterapeuta. Aqui ficam alguns exemplos:

  1. Passivo: Aquele tipo de paciente que não assume compromisso e responsabilidade no seu processo de reabilitação.
  2. Revoltado/Agressivo: o paciente tende a culpar alguém pela sua dor. É frequente em casos de acidentes, como p.e. acidentes de trabalho. O paciente pode tornar-se agressivo com o fisioterapeuta e/outros profissionais que o acompanham.
  3. Paciente que acha “saber tudo”: paciente desinformado que não tendo qualquer conhecimento sobre anatomia ou a sua condição, acha saber tudo sobre a mesma e que o profissional que o acompanha não está a fazer o que deve fazer.
  4. Dependência de um fisioterapeuta ou tratamento específico: tipo de paciente que acredita ter que fazer um determinado tipo de tratamento para melhorar ou que só pode ser tratado por um fisioterapeuta específico.
  5. Paciente que não se envolve no tratamento: aquele paciente que implementa as instruções ou exercícios recomendados pelo fisioterapeuta.
  6. Pacientes com uma “agenda escondida”: caso de pacientes com baixa por acidentes de trabalho e que não pretendem melhorar.
  7. Falta de confiança na fisioterapia ou fisioterapeuta: paciente que teve uma má experiência em contextos anteriores ou que possui crenças negativas relativamente à fisioterapia ou um fisioterapeuta.
  8. Pouco comprometido: paciente que falta ou se atrasa constantemente para os tratamentos.
  9. Procura opiniões de todos: paciente que procura opiniões de várias pessoas/profissionais sobre a sua condição e tratamento.
  10. Em negação do seu problema: não aceita a severidade da sua condição e com isso não aceita que necessita de tratamento e melhoria da sua condição.
  11. “High Performance Driven”: pessoa que não consegue parar para descansar ou simplesmente não fazer nada. Implementam todas as recomendações e exercícios mas tendem a fazer demais e a exagerar, para acelerarem a sua recuperação.
  12. Catastrofizadores/Negativos: pessoas muito pessimistas e focadas apenas no negativo. Não conseguem aceitar que estão a melhorar e mesmo que isso lhes seja demonstrado, pensam sempre o pior.
  13. Outros: Insatisfeitos com o tratamento ou com a vida; pacientes muito ansiosos; pessoas que falam em demasia; confusos; obsessivos; com baixa auto-estime e baixa auto-confiança;

Os resultados deste estudo demonstram que a maioria dos fisioterapeutas entrevistados acredita que a causa dos comportamentos difíceis dos pacientes estava geralmente relacionada com fatores pessoais ou emocionais, em vez de problemas físicos.

Estes fisioterapeutas relataram que lidam com esses pacientes difíceis utilizando diferentes estratégias, como p.e. escutar ativamente, estabelecer limites claros, ajustar a comunicação e o tratamento de acordo com as necessidades do paciente e procurando o apoio de outros profissionais de saúde.

Os autores concluem que a o conhecimento e implementação de estratégias para lidar com pacientes difíceis, como as descritas pelos fisioterapeutas neste estudo, pode ser de extrema utilidade para outros profissionais de saúde que também enfrentam este desafio.

Lidar com pacientes difíceis pode ser um desafio para muitos profissionais da saúde. Deixamos-te algumas estratégias descritas no artigo e também algumas sugestões, de acordo com a nossa experiência do tema:

1. Escutar com empatia: Ouvir com atenção e empatia é fundamental para compreender a perspetiva do paciente e entender o que está a provocar seu comportamento difícil. Tentar não interromper o paciente enquanto ele fala, e evitar ser defensivo ou julgar, são ótimas estratégias.

2. Manter a calma: Pacientes difíceis podem ser rudes, hostis ou agressivos, mas é importante mantermo-nos calmos e evitar responder com raiva ou frustração. Manter um tom de voz calmo e utilizar linguagem não confrontadora são boas práticas nestes casos.

3. Estabelecer limites claros: Se o comportamento do paciente é prejudicial ou ameaçador, é importante estabelecer limites claros e explicar que comportamentos são aceitáveis e quais não são. Deixar claro que estamos lá para ajudar, mas que não toleraremos comportamentos abusivos.

4. Demonstrar compaixão: Nem sempre nos sentimos com capacidade ou energia para lidar com pacientes difíceis, no entanto, é importante relembrarmos que os pacientes são pessoas que encontramos numa das fases mais difíceis das suas vidas. Demonstrar compaixão e empatia, e tentar ajudá-los a encontrarem soluções para seus problemas, são boas estratégias de conexão com este tipo de pacientes.

5. Envolver outros profissionais: Se sentimos que sozinhos não estamos a conseguir lidar com este tipo de pacientes, é importante envolver outros profissionais, como psicólogos, assistentes sociais e/ou outros membros da equipa. Estes podem-nos ajudar a encontrar maneiras de lidar com estas pessoas de uma forma eficaz.

Devemos recordar que cada situação é única e que algumas dessas estratégias podem não ser aplicáveis ​​a todos os casos. É fundamental utilizarmos o bom-senso e raciocínio clínico, procurando ajuda, sempre que necessitarmos.

“Os pacientes são pessoas que encontramos em alguns dos momentos mais difíceis das suas vidas” (James Merlino)

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